– E aí, mano. Beleza?
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Eu disse, enquanto ele largava a mochila em cima da mesa. Estava tenso. Com aquele olhar de quem tá fodi$% e não pode contar para ninguém, sob pena de tomar sermão indesejado.

– Tudo beleza. E você?
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Ele me encarou como se tivesse estapeado uma criança inocente e quisesse fazer uma confissão.
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– Aconteceu alguma coisa, cara? Parece até que você foi no show do Kanye West enrolado em uma bandeira de Israel...

Ele abriu a boca. Fechou. Depois abriu de novo. Depois fechou de novo. Depois abriu.
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Ensaiou seis vezes de começar a dizer algo mas nitidamente não sabia escolher a primeira palavra para usar.
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– Perdi meu maior cliente hoje. Agorinha. Terminei de almoçar e ele me ligou dizendo que não vai continuar. Minha mulher vai me esfolar. – Foi o que ele conseguiu dizer, com a rapidez gloriosa de quem narra uma vergonha que ninguém poderia ouvir além de mim.

Eu não sou o tipo conversador, confesso:
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– Certo. E daí? – Ele ficou espantado com minha indiferença. Não entendeu que minha indiferença não era com ele e sim com a situação. – É só conseguir mais clientes, não?
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– Se eu soubesse fazer isso eu não estaria preocupado, po#$%. E se fosse com você?

Olhei para ele enquanto incorporava dentro de mim uma versão do doutor Italo Marsili vestido de Coringa do Joaquin Phoenix:
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– Olha pra mim. Olha. Mas olha de verdade.
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– Tô olhando.
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– Como é que você IMAGINA a sua empresa?

– Como assim? – Peguei ele de surpresa, claro.
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– Quando eu digo SUA EMPRESA, quais imagens e símbolos surgem na sua cabeça?
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Ele olhou pro teto, como se a resposta estivesse lá. Olhou pra mim, como se eu fosse dar uma resposta genial que pudesse ajudá-lo.
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– Sei lá, cara. Gerenciador de anúncios. É a tela que vejo o dia inteiro na minha frente. Minha empresa me lembra o gerenciador de anúncios.

Ergui minhas mãos e as posicionei uma em cada têmpora dele; como se fosse lançar uma magia:
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– Imagina três gavetas.
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– Que cor?
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– Tanto faz! Tá vendo três gavetas na sua mente nesse exato momento?
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– Sim. Tô.

– Captação. Comercial. Entrega. Coloca uma dessas etiquetas em cada gaveta.
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– Coloquei.
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– Toda vez que você pensar na sua empresa, pense nessas três gavetas. Tudo aquilo que a gente imagina vira organização real. Tudo o que pensamos pode de fato se transformar em regras visíveis. Se você não imagina coisas, se você não organiza coisas na sua cabeça, sua vida real será uma bagunça.

Ele abriu os olhos e sorriu. Aquele sorriso de quem não consegue se conter quando supera um obstáculo ou aprende algo interessante.
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– Mas e o meu cliente? E as minhas vendas? O que isso tem a ver com aquilo? – Pergunta justa feita por alguém que só começou a entender as coisas agora...
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– Sei lá. Te vira. As gavetas são suas. Organize.

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